terça-feira, 24 de março de 2015

Amor freado

Um ponto positivo de fazer autoescola é ver as meninas passar, como na música de Paulinho da Viola. Muitas mulheres na turma tirando a habilitação que tanto demorei a correr atrás, mesmo já sabendo dirigir há alguns carnavais.

Em especial, uma moça. E um moço. Um sem outro é nada. E ao contrário do que Tim Maia dizia, vale sim, também, moço como moço e moça com moça e vice e versa. Vale tudo na luta do amor.

A moça não está nem aí para a legislação lida pela instrutora. Enquanto a mulher fala, a menina lê. Lê Machado de Assis, Esaú e Jacó. Desde então não consigo ver outra Flora que não ela. Mas o moço viu primeiro. Ele quer fazer parte da biografia dela. Para mim bastava um breve capítulo, como os de Machado, lâmina mais afiada da literatura nacional.

Quando ele olha para, ela olha para o livro. Quando ela olha para ele, ele olha para aula. Eu fico olhando de longe para cena que não se encontra, doido para dar uma bussola para as retinas de cada um. Eles seguem em vias opostas.

Na hora de ir embora da aula, ele joga tudo na bolsa e corre para rua. Deve trabalhar depois da aula. Ela coloca tudo lentamente na mochila. Deixa o livro por último, por cima, talvez para não perder nenhuma palavra.

E vão, cada um para um lado. E assim vai. Lá se foram 30 das 45 horas de aulas teóricas. Se esses lábios não se cruzarem até o fim do curso, perco minha provisória provocando uma batida. O amor não gosta de velocímetro.

Um comentário:

Mari ♥ disse...

Texto escrito no dia do meu aniversário, e muito bonito! Adorei :D