quinta-feira, 19 de março de 2015

Cê paradas

Historicamente, a humanidade sempre segregou. Por mais cruéis que tenham sido os motivos, o ser humano gosta de se separar do ser humano. Rola um prazer nisso.

Depois de atrocidades como o nazismo e o apartheid, a moda da vez, no Brasil miscigenado, preconceituoso e paradoxal, é a separação por uso de palavras. Explica-se. Com hífen, esse ser que insiste em juntar o que o homem quer ver distante.

Não é de hoje que essa pedra rachada rola por aí. No entanto, notei uma fixada da guerra entre pessoas que usam palavras como armas que separam durante as eleições presidenciais de 2014.

Quem era pró-Dilma era presidenta. Quem era pró-Aécio era presidente. Bastava a pessoa falar que você já sabia o voto. As palavras quentes revelavam o que os frios números das urnas tentavam esconder.

Passada a enxurrada eleitoral, veio a seca nacional. “Seca” se você de esquerda, contra o PSDB - que também se define como uma divisão da esquerda. No canto dos tucanos (São Paulo) é crise hídrica. E assim seguimos nos separando nesse mar de solidão que é a vida.

Falando em separação, obtive a informação que um casal (ele paulista e ela carioca) chegou ao divorcio porque divergiam se era “bolacha” ou “biscoito”. Nesse lar não tem mais um café da manhã para dois.

Essa briga tendo as palavras como muros nunca fez sentido para mim. Sempre encontrei nos textos uma forma de unir, somar, ganhar. Grades não me agradam, me agridem.

No entanto, como quase tudo na vida, essa luta pode ter algo positivo. Quem sabe com esse embate textual descubramos porque tudo junto se escreve separado e separado se escreve tudo junto.

As palavras são para rabiscar a lógica dos homens, elas ainda nos trarão a paz, o amor, os grandes poetas mortos e todos os Beatles de volta.

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