segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Assassino mais lindo da mamãe

Depois de cumprir três anos de cadeia, Fábio estava em liberdade condicional, sob acusação de assassinato.

Dono de uma voz grave e um sorriso desfalcado, o homem de trinta e poucos anos e tatuagem esverdeada aparentava ter mais idade. Deve ser por conta de tudo o que sofreu – ou não – na prisão. O fato de ser um sujeito meio perigoso já faz de Fabinho um bom personagem. No entanto, o que me fez deitá-lo nestas páginas foi outro motivo.

O sujeito, que tem uma aparência suja e meio hostil, é acordado todo dia com achocolatado levado na cama pela mamãe. Fabinho, o perigoso, é pedreiro por ocupação, mas não pensa em sair de casa, pois, segundo diz, não vale a pena:

– Vou deixar de morar com a minha por quê? Ela faz tudo por mim e ainda me dá um teto. Teto que eu reformei – e o assassino soca o ar.

A mãe, uma senhora meio corcunda e de uma fragilidade bem evidente, se transforma em uma gigante na hora de dar um corretivo em seu filho.

Uma vez, Fabinho contou que foi comprar um ventilador para a velha, mas esqueceu o eletrodoméstico no ônibus. Chegando em casa com as mãos vazias e suadas, de calor e medo, explicou a história à mãe, que tricotava uma meia para o filho enquanto espetava o tédio da aposentadoria. Ao terminar o discurso, a velha rasgou o crochê com a fúria de quem rasgaria uma lista telefônica e obrigou o ex-presidiário a encontrar o ventilador, afirmando que seu dinheiro não era folha para voar com o vento. Sequestrado pelo medo, Fabinho correu à rua e foi atrás do objeto perdido. Dois dias depois ele voltou para casa com um ventilador nas mãos. Temendo apanhar da mamãe, Fabinho resolveu comprar logo outro ventilador.

Apesar das risadas amplificadas ao fim de histórias como esta, contadas pelo próprio protagonista, o respeito impera, pois todos sabem da fama do sujeito.

Uma noite, contou que estava no motel com uma mulher quando seu quarto foi invadido pela velha. Assustado, ele correu para casa nu, deixando a moça, a mãe e a conta para trás. Segundo disseram, o que motivou a invasão foi o fato de ele não ter avisado que iria chegar mais tarde ao lar, doce lar.

O que Fabinho mais lamenta é que, segundo ele, a mulher que tinha na cama era “foda na foda”.

Eu mesmo já presenciei a mãe de Fabinho em ação. Em uma noite de bar cheio, ele se estranhou com um desconhecido e quando já havia abaixado as mangas e erguido os punhos para a briga se deparou com a mamãe, que o nocauteou até em casa.

Há tempos não vejo Fabinho. Não sei se foi preso outra vez ou se está de castigo.

Este conto foi publicado no livro "Histórias de um Boteco Verdinho", da editora Perse.

Nenhum comentário: