domingo, 1 de fevereiro de 2015

A corda

Certa vez visitei um sítio no interior do Rio de Janeiro. O dono do local, amigo de uma amiga, me ofereceu um cavalo para montar. Embora eu seja filho de nordestinos, não tenho muitas habilidades de vaqueiro. Mesmo assim subi no animal. Deu tudo certo, seja lá o que essa expressão quer dizer.

Do alto da minha montaria, reparei que uma menina de uns dez anos de idade, desfilava sobre um cavalo branco sem usar qualquer tipo de equipamento - rédeas, selas etc. Perguntei o porquê daquilo. O dono do sítio me disse que era um animal “especial” que cavalgava muito melhor sem nada que o prendesse ou incomodasse.

As horas passaram e eu e meus amigos ficamos tomando cerveja e aproveitando as belezas do sítio, esquecendo os problemas erguidos e engarrafados na vida da cidade grande. Álcool é anestesia para a alma.

Lá pelas tantas latinhas, resolvi propor para o dono do sítio que me deixasse montar o tal do cavalo especial, mas só se ele estivesse com cordas que me possibilitassem controla-lo. Admito que o bom senso me escapa quando bebo, igual a letra daquele samba. Depois de certa resistência, o homem abriu essa porteira para mim.

Subi no cavalo, que se chama Passos, com direito a sela, rédeas, cordas e tudo mais. Bastante contrariado, o bicho disparou e se debateu até me ver no chão. E viu. Eu vi tudo girar. Não me machuquei, até senti que não era essa a intenção do animal. Ele só não queria o que eu quis.

Do topo do chão pude ter a certeza do que eu já sabia (isso acontece sempre comigo). Não dava para prender Passos com cordas. Por mais tonta que tenha sido, tive uma lição de vida. Vida, que assim como aquele cavalo, eu decidi desamarrar de tudo. Menos dos amores, das latinhas de cerveja com os amigos, dos títulos com trocadilhos meio infantis e dos finais de texto com direito a uma reflexão de leve.

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