quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Fantasia

Uma festa noturna realizada no último dia do diurno e diário carnaval do Rio de Janeiro estava mais bem frequentada que cheia. Entre os muitos e poucos presentes estava ele. Ela, também.

Ele vestido (ou não) de índio com o definido peitoral de fora. Sugeria sensualidade. Uma liberdade nada pudica, morena. Queria pôr o bloco na rua. Queria todo naquele carnaval. Carnaval é fantasia.

Ela de Branca de Neve. Os seios estavam bem cobertos até então. Princesa! Dançava bucólica uma marchinha que na letra abrigava safados trocadilhos. Os homens do evento evitavam uma abordagem. Parecia séria demais. Carnaval é inversão.

Os dois se esbarram e não tardou para que os lábios se tocassem. Com os olhos fechados, o jeito era enxergar com as mãos. Passaram a conhecer cada palmo do corpo do outro. Fugiram para um canto mais escuro, queriam ver melhor.

Ele já estava dentro dela. E ela, nele. Apesar do som alto, só ouviam sussurros, daqueles que chamam os ouvidos e os pelos do corpo. O ritmo frenético estava em harmonia com o sentimento recém-composto pelo casal casual. Ele era o mestre-sala dela. Ela, a porta-bandeira dele. Desfilavam no sexo oposto.

Foram até o fim. Fim para os dois. Ambos estavam lépidos, úmidos e deliciados com aquele momento curto e eterno. Paixão que não teria tempo de cruzar uma avenida, mas enredo que será lembrado sempre. Eu acho.

Não se importaram. Foi cada um para um lado. Eles eram os próximos um do outro. Distância aproxima. No entanto, era carnaval, as ideias prontas não saem de casa. Não pisam no asfalto.

Na saída da festa, ele se arrependeu de não ter pedido um contato dela. Ela só queria contar o feito para as amigas.

Carnaval é fantasia. Carnaval é inversão.

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