sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Janela

Quando eu era criança costumava viajar de carro com meus pais e meu irmão. Viagens curtas para municípios vizinhos onde alguns parentes nossos moram. Sempre que eu passava mal nessas jornadas e começava a enjoar devido ao balanço da estrada, minha mãe dizia: “abra a janela e ponha o rosto para fora”. Eu obedecia e ficava bem. O enjoo se perdia na pista e eu me abastecia de uma sensação boa, de plenitude até. Sem saber, cresci com essa ideia na mesma cabeça que ia para fora da janela em busca de melhores ares.

Recentemente, em uma festa, uma amiga começou a se sentir mal. Não estava afetada pelos efeitos do consumo de álcool. Era algo mais sério e inexplicável. Todos os presentes na casa tentaram algo para ajudar a moça e nada de ela melhorar. Acusava uma angustia de muitas páginas. Uma história que parecia sem fim.

Então, por lembrança ou por falta de sentido, convidei a amiga para perto de uma das janelas da residência e abri o vidro. Um vento que até então não havia sido convidado chamou os cabelos da moça para dançar. Ela suspirou em ritmo de alívio imediato e a festa continuou.

Ela me agradeceu com um sorriso denso, de poucas traduções e um abraço não mais explicável. Além de uma euforia quente e quilométrica, capaz de tomar conta da Rússia.

Abri todas as janelas da casa. Desde então sigo tentando fazer isso sempre: abrir janelas.

Nenhum comentário: