quinta-feira, 17 de abril de 2014

Vida pede carona

* Desculpem a demora para atualizar esse antro de palavras perdidas, mas eu estava sem internet em casa e no trabalho fica complicado escrever para o maldita ou outro site que eu colaboro.

Estava atrasado para um compromisso e resolvi pegar uma carona de carro com meu pai. Olhando pela janela do veículo vi uma das cenas mais bonitas do mundo: um pai, de bicicleta, carregando, no bagageiro, um filho.

Aquela cena estava sendo rodada em preto e branco na minha mente cada vez mais cinematográfica. Me lembrei dos meus tempos de criança quando o mesmo senhor de cinquenta e poucos anos que agora ao meu lado dirigia um carro pago em prestações de muito suor me levava para a escola na garupa de uma Caloi verde.

Às cinco e pouca da tarde ele chegava na porta do colégio público e quando me via tocava a discreta buzina para chamar minha atenção. Nem precisa. Nenhuma multidão de lancheiras do Super Homem me faria perder a melhor hora do dia. Ele pegava o garoto magrinho pelos braços, dava um beijo na testa e perguntava “tudo bem, neguinho”? - me chama assim até hoje.

A aventura começava. No meu mundinho particular, eu estava dentro do veículo veloz e protegido que ultrapassava os obstáculos do mundo a cada pedalada do meu velho vinte anos mais jovem. Estava seguro e feliz. Minha Copenhague diária. O vento em ritmo de respiração me trazia para a realidade e bagunçava meus cabelos que meu pai ajeitava com um carinho ao chegarmos ao nosso ponto final, onde já estavam estacionados minha mãe e meu irmão, que ainda era novo demais para viajar de bike com o maior herói do mundo.

Perdi de vista o pai e o menino que me trouxeram em marcha pesada lembranças tão leves. Sabiam o caminho. Na garupa do amor ninguém se perde. Começou a chover do lado de fora do carro. Sem problemas. Até quando me levava sob duas rodas e gotas de nuvens, seu José sempre tinha uma capa de plástico disponível. Todos precisam de um pai, uma bicicleta e um bagageiro. Todos.

Avistei um garoto de uns sete anos, roupas sujas, rasgadas, pedalando sozinho entre os carros e a água que se acidentava no chão. Algumas pessoas corriam atrás dele, entre elas, um guarda municipal. Ele parecia desnorteado. Acompanhei a movimentação até o momento em que meu pai entrou em uma rua para depois entrar em outras duas e me deixar no meu destino. Tive sorte por ter tido tantas caronas como essa na vida.

Um comentário:

Paula S disse...

Ahhhhhh, que lindo!