domingo, 27 de abril de 2014

Apenas palavras

Há cinco anos, um tio (que hoje tem 35 anos) analfabeto que estava aqui no Rio de Janeiro há cinco anos trabalhando - e muito bem - como cozinheiro decidiu voltar para a Paraíba. Sempre gostei muito dele e o incentivava a aprender a ler e escrever, cheguei a tentar ensinar, mas nossos horários não batiam muito e nunca conseguíamos ter uma boa série de aulas.

Um dia, ele me disse que não estava feliz aqui e que iria voltar para o Nordeste. A parte da família que já está bem estabelecida aqui, foi contra, mas nada mudaria a opção dele. O "x" já estava marcado. Fiquei triste, mas entendi. Felicidade é sempre mais importante que qualquer outra coisa. Tudo o que não pode ser medido é mais importante.

Esta semana, eu metido a jornalista, escritor, roteirista e outros "istas" recebi uma carta dele. Escrita por ele. Na verdade, um bilhete desenhado com garranchos de quem ainda vai praticar, mas com sentimentos que não se aprendem por aí em cadernos ou escolas.

A folha está preenchida até a metade com o texto:

Não sou bom com as palavras. Mais (sic) elas são boas comigo. Quando aprendi a ler, meu mundo mudou. Cresceu. Pude ler os jornais, as placas e o Facebook de vocês ai (sic) e lembrar de todos. Como sempre faço vou ligar para conversar com todos vocês. Mais (sic) queria te escrever, você me ajudou a começar esse sonho. Obrigado. Estou feliz.

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