domingo, 22 de dezembro de 2013

Final feliz

Exatamente um ano após a morte do meu tio, minha tia faleceu. Parece roteiro de comédia romântica, mas é só a vida real. Ela aguentou a cruz que foi a missa de sétimo dia, rasgou a folha do primeiro mês, apagou as velas do aniversário dele e beijou a aliança na data em que comemorariam 31 anos juntos. A fila não andou. Essa fila ficou estacionada em um tempo que eu não vivi e que acho que não volta mais. Época de amores eternos.

Era uma união daquelas do interior do país e do coração. Fumavam juntos. Cozinhavam juntos (ele era muito bom com as panelas). Jogavam baralho juntos. Brigavam separados, pois não se faz tudo junto. Criavam pássaros em um grande viveiro no quintal da casa sempre aconchegante. O amor batia asas, mas não queria vencer aquelas paredes antigas. Ninguém queria.

Na contramão da normalidade, ela, antes ateia, passou a acreditar em Deus quando o marido se foi. Enxergava no céu a possibilidade de ver o amado outra vez. No entanto, fez da terra seu inferno. Não viveu nesses últimos doze meses, teve uma profunda depressão, até que um câncer no coração foi descoberto. Se entregou, como se esperasse estar outra vez nos braços do pai dos seus dois filhos.

Ela ouvia uma música do Márcio Greyck infinitas vezes: “eu já não consigo mais viver dentro de mim. E, e viver assim, é quase morrer”. E cantava a letra como se os vizinhos não tivessem ouvidos ou amores. Não tinham. Nem tem. E, como o deles, nunca terão.

Não foi a depressão, tampouco o câncer que a levou desse mundo. Tia morreu de amor. Como não se faz mais hoje em dia. Descanse em paz. Eternamente.

Um comentário:

5n3v35 disse...

É abençoado,
esta época do ano acaba mexendo com nossas lembranças, o que pesa em nosso coração. Faz um ano que enterrei meu pai, exatamente na véspera do aniversário de meu filho no início do mês de Dezembro. A vida é assim.
Feliz natal e que em 2014 DEUS se faça presente a cada momento de sua caminhada.