Amor

-Não vou te deixar cair, é muito alto, você pode...
-Morrer? Já faz tempo que desejo isso, não tenho grandes motivos para continuar vivo, a menina que eu amo não sei se me ama, eu nunca disse meu amor pra ela, eu acho que ela acha que somos só amigos. Eu sou um merda mesmo, meus pais morreram e eu fui para àquele maldito orfanato, não tenho ninguém. Melhor me largar e me deixar cair.
-Também não tenho muita gente, moro no mesmo orfanato de onde você fugiu, sua história não é tão triste quando você conta pra mim, primeiro, porque você enche o saco repetindo ela e também, porque todos no orfanato temos uma história de vida parecida ou até pior do que a sua. Meus pais também morreram. Você tem alguém, eu não estou aqui?
-Sim, você... mas siga seu caminho, eu sou um desgraçado, não mereço alguém tão especial ao meu lado, sempre fui um fracasso... é por isso que todos se afastam de mim, me deixa cair dessa árvore e rolar penhasco abaixo, me larga. Se pelo menos eu soubesse que alguém gosta de mim...
-Eu te amo!
-Sério? Mentira sua, isso é só pra mim não querer mais morrer, você só fala comigo porque ninguém mais fala, você é a única, você é única...
-Você pode cair e não morrer, pode não sofrer nada, esse penhasco nem é tão alto assim.

Ela conseguiu puxar o menino magro, feio, triste e desajeitado para um galho seguro. Desceram da enorme árvore. Seguiram de braços dados em direção ao orfanato que não era longe...

-Você me ama mesmo?
-Não fale tão perto, você está com mau hálito.

(Ao som de: Los Hermanos - 4)