Lerdão, como ele era chamado, subia na laje e olhava o céu. "Os planetas só trabalham de noite. De dia, eles descansam", dizia ele. Não era muito informado. Nunca fez curso fora. Quem se importa. Era tão gente boa que quase sempre bebia de graça no bar da esquina do beco.
De uma noite para outra, sumiu. Procuramos, preocupados, por um tempo. Depois a procura passou. A preocupação nunca foi embora. Falam que ele disse que queria mudar de vida. Só que isso é óbvio para qualquer favelado.
Ele não era muito de leitura, na verdade, de todos os amigos, só eu, filho de professores, que tinha alguma intimidade com os livros. Ele sabia ler a si mesmo. Soube, de alguém informado, que ele traduziu-se. Foi morar em outro país.
Eu acho mesmo que ele está em outro planeta, desses que só trabalham à noite e descansam durante o dia. Era mais o estilo dele.
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