Clara esperou por Peu por meses. Quantos? Ela, mesmo com pouco tempo de estudo, sabia até o número de horas. Eu perdi as contas. Não se calcula grãos de areia. Ela ficava na beira da praia esperando, mesmo sabendo que Peu poderia vir por outro cais. O Sol mudava de posição e Clara ficava lá, no mesmo lugar. Parecia um personagem de Jorge Amado, tema de música de Dorival Caymmi.
A mulher, que usava vestidos rotos, lavava o cabelo todos os dias. Reclamava da quantidade de areia na cabeça. Após essa limpeza capilar, ela ia para a praia esperar por Peu, que não vinha. O cuidado com a limpeza dos pés também era intenso. Extremamente. Sempre que podia, tirava os muitos grãos de areia dessa parte do corpo. Como se fosse possível para quem mora perto da praia, Clara resistia em manter os pés livres de grãos de areia.
Quando o tempo decidiu, Peu chegou. Ele estava diferente. Não era só a barba grande e o pequeno número de peixes na rede. Clara não sabia o porquê, mas ele estava diferente. Quem está sempre igual sente as mudanças.
Depois da chegada de Peu, os dois voltaram para a vida simples que levavam naquela modesta comunidade de pescadores, em um desses locais que o Brasil ainda esconde.
Estava tudo igual. A mesma rotina: Peu pescava e Clara cuidava das coisas, da casa. Mas Peu estava diferente. Às vezes, ele falava sobre a última longa viagem de barco, sobre o que viu em grandes cidades. Clara sentia um misto de encantamento e medo. Os dois se parecem, mesmo.
Um dia, Peu limpava peixes e Clara lavava os pés, após lavar o cabelo. Ela disse para ele que iria à praia e o pediu para esperar em casa. Sem muito rumo, mas com alguma direção, Clara saiu andando pelas areias. Sujando os pés que acabara de limpar. O vento também levou areia para os cabelos. Clara nem sentiu a quantidade de grãos que tinha cabeça e continuou andando em frente, sujando os pés.
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