terça-feira, 27 de junho de 2017

Crônica de tempo e vento

Ela era explosiva. Eu, paz e amor. Amava-me no volume máximo. Para mim, melhor no escuro. Se ela guiava para o cinema, eu andava pelos livros. Mas também fazíamos caminhos inversos.

Rio-São Paulo, ponte aérea que o tempo e o vento não levam. Enquanto ela lia Érico, eu folheava Luis Fernando. Estávamos em casa, já éramos uma família.

Ela, shopping lotado. Eu, torcida organizada no Maracanã. Sempre chegava na hora. Já os meus relógios constantemente atrasavam.

Quando eu tinha o cabelo mais cumprido, era o dela, corte Chanel, que o vento chamava para dançar. Não tiro a razão dele, o vento. Eu fazia o mesmo quando nós dois éramos um só, deitados na vida. E éramos um só. Sempre fomos. Até quando estávamos diferentes.

Hoje, tenho entradas de calvíce. Uso relógios que meu pai usava. Esses não atrasam mais. Mas agora é tarde. Perdi a hora. Dela, sei quase nada. De vez em quando bate um vento frio na cabeça, aquece a memória e só. E só. Deu minha hora.

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