terça-feira, 26 de julho de 2016

Abrir a lata da cabeça

Um amigo me contou que parou de beber. Disse que estava tendo uns problemas; nada com a saúde, não. A questão era de segurança mesmo. Alegou que andou cometendo uns erros, como esquecer o caminho de casa, roubar placas de trânsito, entrar em brigas de moradores de rua e ligar para ex-namorada.

Esse mesmo amigo, que agora vai ser o motorista da rodada de todas as rodadas, o Imune à Lei Seca, falou que desde que tirou o álcool da dieta, a cabeça dele abriu e ele passou a enxergar outras possibilidades de vida, de diversão.

“Tem muita coisa que a gente deixa de fazer porque está sempre pensando em tomar uma cerveja. Inclusive, ver os amigos é possível sem bebida, sabia? As pessoas veem melhor sem os efeitos do álcool”, debochou o bico seco.

A argumentação do rapaz foi ótima. Deve ter sido porque ele estava sóbrio e não enrolou a língua. Meu amigo zero álcool falou por horas de como está vivendo melhor e se divertindo mais sem encher o tanque. Ele acredita que vai bem mais longe assim. Eu respeito. Juro que não vou me afastar dele só porque ele não bebe mais.

Segundo ele, agora, sem álcool no sangue, é possível praticar mais esportes, acordar mais cedo e disposto, curtir o Sol (e não a Sol, cerveja) e até mesmo pensar melhor, ser mais racional. Uma onda meio Tim Maia sem doping.

Depois da conversa (e da ressaca), fiquei pensando e conclui que, em um ponto, o novo-sóbrio tem razão. De fato, nós deixamos de viver muitas coisas porque optamos por outras. Mas se fizéssemos o caminho inverso, não daria no mesmo? Não sei. O que sei é que escolhas nos reduzem e é muito triste saber que não posso fazer quase tudo que quero. Dá até vontade de beber para esquecer isso.

Para pensar melhor, como era hora do almoço, abri uma latinha de cerveja e a cabeça. É sempre bom abrir. As duas.

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