segunda-feira, 2 de maio de 2016

Um mundo

Desde criança, ela era engenheira da própria vida. Engenheira, não, arquiteta, pois é mais poético. Ela criou um mundo próprio, paralelo e bem melhor que o mundo do mundo, onde as pessoas precisam sobreviver e tentam viver.

Cresceu assim e o universo de brinquedos se tornou um reino de livros, filmes, pensamentos e canções. Também havia espaço para a tristeza. Era democrática. Contudo, lhe faltava alguém para dividir esse planeta pessoal. "Cada um de nós é um universo,Pedro". Universos são grandes. Pedros, nem sempre.

Foi assim que ele entrou na vida dela. Entrou pelo mundo do mundo, por uma porta comum que estava aberta. Uma porta que sempre esteve aberta: a porta do coração.

Ele também tinha o mundo dele; todos temos. Ele era do tipo que não ligava muito para isso. Gostava do mundo do mundo. Achava que era mais livre lá do que poderia ser em um infinito particular.

Foi morar no mundo dela. Foi por amor. Fez questão de não mexer em nada. Ficou morando do lado esquerdo do peito por três anos. Era um bom lugar. Atraente por fora. Lindo por dentro. Bem arejado, aquecido nos tempos frios.

Apesar disso tudo, foi nesse mesmo lugar que ele começou a se sentir apertado. Preso. Pouco livre. Quase livre, na verdade. Ser quase livre pode ser pior que ser totalmente preso. Às vezes, quase é nada. Tudo o que não precisamos.

Ele resolveu ir embora. Falou para ela que não estava se sentindo bem, estava sem ar, sufocado. Ela chorou. Ele partiu. A ordem não importa muito nessas horas.

Ela tentou argumentar, falou para ele que havia lhe dado um mundo. Um mundo! Um mundo que antes era só dela. Como pode ele se sentir preso tendo um mundo só para ele? Ele respondeu que para muita gente, um mundo é pouco. Muito pouco.

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