quarta-feira, 23 de julho de 2014

Salgando o pranto

Morreu Ariano Suassuna. Fica o choro. A vida segue. A obra é eterna. A arte imortaliza. Só ela vence a morte. Não vou chover no molhado nesses dias de seca de alegria. A nossa literatura é uma homenagem a Ariano. O mundo é uma homenagem a Ariano. O sertão vai sempre lhe amar. O contrário é bobagem. Quem sou eu para falar de um homem que usava tão bem as palavras...

Uma vez vi uma palestra de Ariano e ele citou um poema de um poeta pouco valorizado e muito genial. Leandro Gomes de Barros é o nome do homem. Ele teve textos usados por Ariano. Ele é considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel. Ele e Ariano me fizeram e me fazem muito bem. Segue o texto em homenagem a esses dois monstros imortais, pois somente para alguns a morte é um acidente de percurso.

O Mal e o Sofrimento
Leandro Gomes de Barros

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?



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