sexta-feira, 11 de julho de 2014

Qual o valor?

O centro do Rio de Janeiro está lotado de argentinos. Procissões de devotos de Maradona e Messi. O futebol é a religião que menos deu errado. Os nossos vizinhos estão nos bares, nos mares e nos ares da Cidade Maravilhosa. Cantam o tempo todo, como pássaros pela manhã. "A vida é tão mais vida de manhã", dizem os rapazes da banda Vanguart.

Nesse mar azul e branco, um hermano chegou para mim e perguntou se eu sabia onde ele poderia encontrar um ingresso para a final da Copa do Brasil. O sujeito, cabeludo, cerca de 35 anos, uma meia maior que a outra e que já está em terras tupiniquins há mais de 30 dias, falou que daria todo o dinheiro que tinha - segundo ele, R$ 100 mil, mais o carro que lhe trouxe ao Brasil, que deve valer outros 100 mil.

No meu portunhol sóbrio, disse a ele que eu não sabia. Não sou da máfia da imaculada Fifa. Mas que se ouvisse algo passaria no Terreirão do Samba (agora da Cúmbia), onde ele e muitos outros argentinos estão "hospedados", e falaria.

Em frente ao mesmo Terreirão, uma família de moradores de rua se preparava para dormir. Sob uma chuva fina e perseverante e um frio de fazer qualquer carioca tirar o casaco com cheiro de naftalina do armário, a mãe vestia os dois filhos, o marido e um cachorro embaixo de um lençol fino e nada chique, que ela segurava com o cuidado que se deve ter com um cristal ou com uma taça da Copa.

Mas à frente, na Lapa, uma moça que trajava uma camisa da Argentina beijava um rapaz que vestia a 10 de Neymar. Os dois afogavam a rivalidade e as diferenças um na saliva do outro. Após o beijo, ela olhou para ele com uma vista perdida, como se tivesse encontrado algo valioso, um ingresso para final ou um cobertor maior e mais quente.

Pensei no que era importante para mim. O que vale mais na minha vida? O que tem mais valor? A chuva aumentou e corri o mais rápido que pude para casa.

Nenhum comentário: