quinta-feira, 19 de junho de 2014

Encontro das chaves

Ela já havia batido a porta há sete meses, 25 dias e 17 horas. Mas ainda não tinha ido embora. Pelo menos não para ele. Ela já estava em outro lugar. Em outra pessoa. Ele descobriu isso pela internet. Entrou em um desespero real. Deletar o mundo era pouco.

Ele revirou a casa com a força de quem quebra e a intenção de quem procura. De fato procurava. Abriu todos os livros da biblioteca na esperança de achar uma anotação dela que apagasse a dor que sentia naquele momento. Abriu todas as garrafas da casa acreditando que o perfume dela estava em algum lugar. Fechou as janelas para o que o fantasma dela não fugisse.

Enquanto virava a casa ao avesso e queria dobrar o planeta, encontrou a velha bicicleta com a qual ele pedalava ao lado dela. Pedalou em direção ao apartamento da moça que ele acreditava ser seu grande amor como se não houvessem cruzamentos perigosos.

Conseguiu vê-la. Ela e o novo rapaz passeavam de carro pela orla vestidos pelo ar-condicionado do importado. Ele não se importava com o corpo banhado com o mesmo suor que regou o amor daquele extinto casal. Trocaram olhares. Ele deu todo o que tinha. Ela mendigou luz. Ele assistiu o veículo e a vida seguirem na contramão.

Uma moça distraída vinha numa bicicleta chinfrim na direção contrária a do carro importado. Chocou-se ao homem parado e perdido. As chaves de ambos se encontraram. O final é feliz.

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