quarta-feira, 28 de maio de 2014

A Copa e as culpas

Nos últimos tempos, o que não tem faltado no Brasil são manifestações. Está certo! Um povo que tanto apanha, uma hora tem que bater. Professores, estudantes, rodoviários, policiais, vigilantes e super-heróis têm feito constantes greves. Muitas dessas revoltas são antigas, mas a Copa do Mundo serviu de gancho para tais. Às vésperas da Copa, proponho um protesto contra a Fifa e suas regras. Mania feia de organização. Frequentemente, eles criticam nosso evento. Se o desejo era pontualidade, que chamassem os ingleses ou os suíços para sediar o Mundial. O conceito de erro (culpa) de você não está de acordo com nosso relógio biológico, tá ligado? Mire esse ponteiro para a Rússia, Comitê Organizador!

Ontem, Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, mostrou preocupação após visitar a Arena das Dunas, em Natal. O mandatário falou que ainda há muita coisa para fazer por lá. Calma aí, dona Fifi! Chega de falar no nosso ouvido. Os estádios serão entregues e que comecem os jogos. Não importa se vai estar tudo funcionando ou se vai faltar algo aqui ou ali. O que importa é entregar. “Não precisa ser de placa, eu quero ver gol”.

Em março deste ano, o mesmo Valcke declarou que corríamos o risco de ser os “piores organizadores do pior evento”. Ele já havia dito anteriormente que o Brasil precisava de um “pontapé na bunda”. Será que esse mala não cansa de reclamar? Acho que ele precisa de uma roda de samba e umas rodelas de limão no copo.

Será que ele não sabe que na Copa de 1950 foi assim também? Na época, o único pedido era que tivéssemos estádios “Padrão Fifa”. A instituição que manda e desmanda no futebol mundial só queria arquibancadas para no mínimo 20 mil torcedores, alambrados, cabines para a imprensa e autoridades e túneis interligando os vestiários ao gramado. Mesmo assim fizemos do nosso jeito. Do nosso jeitinho. No dia primeiro de julho daquele ano, 23 dias antes da abertura da Copa, a vistoria do Maracanã feita pelo presidente da Federação Italiana de Futebol e delegado da Fifa, Ottorino Barassi, constatou que o tamanho do gramado não era adequado, assim como a área da imprensa. O Maraca, palco da final, só ficou totalmente pronto quase duas décadas depois do torneio.

E nem venham falar de grana pública. Em 50 também usamos como achamos certo usar. Naquele tempo, o presidente da CBD, Rivadávia Corrêa Meyer, adicionou Porto Alegre na lista de cidades-sede. Sabem por quê? Porque ele era gaúcho. Entretanto, não tinha dinheiro disponível para deixar o estádio da cidade no Padrão Fifa. Então, ele pediu ajuda ao município, ao estado e ao país. E ele conseguiu. O Estádio dos Eucaliptos foi reformado. Segundo dados da época, o Internacional, dono do estádio, recebeu 500 mil cruzeiros do poder público, valor equivalente a 625 salários mínimos da época e que hoje corresponde a R$ 452,5 mil.

No mês passado, o vice-presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), John Coates, disse que os preparativos do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016 eram os piores que ele já viu. Coé, COI, para de encher o saco também! Parece a Fifa. Falta tanto para 2016...

Esses caras aí não sabem que o processo aqui é mais lento. A fila do SUS demora porque o tempo é o melhor remédio. O Brasil está em outro tempo. Um tempo no qual os erros de 1950 se repetem em 2014. Não são eventos internacionais e seu moralismo besta que vão nos mudar. Vai ter Copa apesar das culpas, nada vai mudar nossa capa.

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