sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Dias de criança


Chegava da escola junto com a chuva. Deitava no sofá. Na verdade, deitava de frente para a televisão. Passava Doug. O edredom me protegia de tudo o que desabava lá fora.

Dava vontade de sair para a rua, chutar bola, soltar bomba na casa da vizinha fofoqueira e chata, esvaziar o pneu do carro do cara metido. Mas eu estava bem ali. Exatamente no meu mundo. Mundo que arquitetei na parede da sala e ergui num céu de brigadeiro.

Meu planeta não tinha divisões, guerras ou "onzes de Setembro". Era sempre doze de outubro. Vigorava a ditadura do "ameninado". Nesse lugar, meus pais não brigavam. Ninguém gritava comigo. Eu só me rendia ao sono da tarde.

Meus soldados de plástico me ajudavam a encarar o valentão da turma que queria pegar o potinho com lanche que minha mãe preparava. Enquanto isso, meu boneco predileto voava.

Esperava o intervalo na programação da TV Cultura para ir até a cozinha buscar o biscoito “presuntinho”. A alegria tinha gosto.

Meu pai chegava do trabalho com meu irmão e o cheiro do café.

Era feliz e sabia.

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