sábado, 10 de agosto de 2013

Os bons ares da fossa

Bebi com uma amiga que acabou de terminar um namoro. Relacionamento que ela começou para esquecer um ex-amor. E a moça, atraente como uma noite de sábado, já deitou nas redes sociais que está solta e disposta a um novo nó. Um "nós".

Perguntei: "e a fossa? Não vai 'curtir'?". Ela respondeu com uma cutucada: "pouca gente compartilha essa ideia de que uma dor de amor deve ser valorizada."

Me calei num gole. Mas a cabeça não parou. As pessoas estão resolvendo suas crises com novas crises? E os discos do Roberto, Odair, Fagner, Raça Negra, etc? E o porre de cachaça? E a transa com uma desconhecida regada pela certeza de que a eternidade dura uma noite? E o sábado à noite em casa? O filme de comédia que acaba te fazendo chorar? O aperto no peito? Frio na barriga? Dor de cabeça e cotovelo?

Dor é professor de você e do mundo. Nada como uns tempos numa pior para se tonar uma pessoa melhor no ponto de vista sentimental, intelectual. Reflitam nos seus espelhos quebrados na derradeira briga do casal.

Não dá para acreditar que as pessoas estão mandando a fossa ir à merda. Não pode! A dor é a felicidade de grife. No auge da minha analise etílica, acredito que é por conta desse tipo de sentimento (de não querer sofrer) que as pessoas estão cada vez mais "felizes". Sabem, a felicidade forçada, que precisa ser empurrada para dentro do coração? Isso não é bom. Faz mal para a saúde.

Nada contra a alegria. É a melhor coisa que existe, como já foi dito pela galera sorridente da Bossa Nova. No entanto, a dor tem seu valor. É uma faceta da felicidade. Vide ao símbolo do teatro.

Falando em arte, já pensou se as mentes criativas pararem de sofrer? Quem vai sofrer, de fato, somos nós, meros mortais que dependemos do gosto da arte para deixar a nossa passagem pela Terra menos amarga. Um alento para esses dias rápidos e cruéis.

Às vezes, nos esquecemos que é possível equilibrar os fatos. Não precisamos amar, tampouco, sofrer para sempre. Vai de reto, extremismo. Todo extremista está no passado. Podemos e devemos nadar em mares de rosas. Porém, podemos e devemos, em outros momentos, mergulhar na fossa. Assim não nos afogaremos em instantes rasos e superficiais.

Não deixem a fossa morrer. O amor pode acabar. Mas a fossa precisa existir para sempre nas merdas das nossas vidas.

Um comentário:

Paula S disse...

Nunca sei se vc tá falando sério ou brincando, rsrs