sábado, 17 de agosto de 2013

Acabar faz bem

Empurrado pela obrigação (essa destruidora de vidas), peguei um ônibus para ir ao trabalho. Meus olhos ainda embaçados pelo sono se depararam com um motorista extremamente bem-humorado, sorridente e solicito. Um tom colorido naquele dia cinza. Despertado por tal curiosidade - quem usa transporte coletivo no Rio de Janeiro sabe que isso não é nada comum - observei o sujeito simples por toda viagem.

Do alto da minha cadeira baixa de análise, notei um condutor boa praça, em todas as ruas engarrafadas e com todas as pessoas que mal lhe desejavam um "bom dia".

Até que, ao ficar parado por muitos minutos no caótico trânsito, engatou uma conversa com um motorista de um ônibus parado ao lado. Entendi o motivo. O piloto abastecido de alegria contou ao colega de profissão e sofrimento que estava para sair da empresa. Havia feito um acordo e aquele era seu último dia de trabalho "naquela merda", palavras dele. E minhas também.

A certeza de que a labuta remunerada com baixo salário e alto estresse estava perto de um ponto final. A certeza de que vai acabar nos faz tão felizes quanto a certeza da eternidade.

É por isso que quando nos lembramos que a morte é certa (como na música do saudoso Sérgio Sampaio) cometemos loucuras que até Deus duvida. Quem nunca berrou, depois de algumas doses a mais, ao céu e ao inferno que a vida deve ser curtida desesperadamente, pois não se sabe o que vem depois dela?

Essa certeza de que haverá um fim é a lenha do fogo das paixões. Por isso são tão intensas e quentes. Ao contrário do amor, que dança no vento da eternidade.

A semana de trabalho só é suportada porque sabemos que uma hora a folga chega. Chega de ralação! Se trabalhar fosse bom, faríamos de graça, como fazemos amor e paixão.

Quando, aos 43 do segundo tempo, o lateral-direito do seu time dá um pique e cruza o campo para cruzar para o gol da vitória, ele está motivado pela certeza do fim do jogo, porque o fôlego já estava no vestiário.

E por aí vai. Vai e acaba. Vou fechar o texto, afinal, aposto que quem chegou até aqui já está louco para ver essa merda encerrada. A certeza do fim motiva mais que a ideia de eternidade. Se esse texto fosse eterno, vocês estariam fodidos.



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