sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Cachaça nacional

Em uma dessas farras olímpicas, conheci uma mina da Rússia - ela falava um português difícil, mas bebia Catuaba fácil. Dizia que adoraria que o país dela fabricasse a bebida.

Papo vai, dose vem, trocamos uma ideia boa. Muito boa. Um amigo até tentou explicar para ela que no Brasil existe uma expressão ("a coisa tá russa") para quando não vai nada bem. Ela não entendeu a frase, no entanto, pareceu entender bem o povo brasileiro.

Ela me disse que já havia vindo ao Brasil duas vezes e o que mais gostava aqui era a alegria do povo.

Disse para ela que eu, sinceramente, não consigo entender como conseguimos ser um povo tão feliz em um país com tantos problemas. Expliquei, ainda, que não sabia se essa alegria toda era boa ou ruim, por não compreender se isso nos ajuda a superar as dificuldades ou se colabora para que nunca saiamos delas.

Ela desdenhou da minha etílica reflexão e disse que a Rússia é cheia de problemas como os nossos: corrupção, violência, bebidas caras. E o fato de ser um povo menos festivo não muda em nada essa realidade. Eles, assim como nós, continuam com dificuldades. E sem Catuaba.

No dia seguinte, peguei um metrô lotado, com o ar condicionado ruim e tinha gente, dentro do vagão, fazendo piada da situação.

Agora (sóbrio), continuo sem saber se ser um povo festivo e que faz graça com quase tudo é bom ou ruim. Talvez seja os dois. Talvez só um. Talvez nenhum. Pelo menos, temos Catuaba. O que já é um bom motivo para ser feliz.

Um comentário:

Unknown disse...

Sensacional ! O Chico Anísio falou uma vez que é mais fácil fazer piada qdo se encontra dificuldades e mazelas, que o nórdico não tem piadistas (pelo menos como no Brasil). Se é bom ou ruim... a medida exata seria a média, isto é, sorrir, sorrir e meter o pau no que está errado e poderia estar pelo menos mais ou menos, mais pra mais do que pra menos.
Por exemplo, aqui na minha cidade, pra variar, vai ter só prefeitos candidatos draculinos, poderíamos nos reunir aqui e exorcisá-los (?), mas não, todos querem ir pro churrasco de picanha, na borda da piscina de chão de mármore e beber o combustível da ilusão e ... nada. Meio termo tá bom.