sexta-feira, 8 de maio de 2015

Quero te ligar

Desde o dia que ela se foi, a casa se bagunçou. Não que eu seja um machista babaca que acha que mulheres têm que, obrigatoriamente, arrumar o lar. Muito pelo contrário. Sempre fiz essas tarefas com muito prazer. No entanto, desde o dia que ela se foi, a casa se bagunçou.

Os livros nunca estão na prateleira certa. Eu ainda procuro as palavras, as explicações. Como uma história sem fim pôde acabar? Um romance de final infeliz. Cadê o telefone?

As canetas nunca estão na escrivaninha. Tento anotar alguma ideia. A cabeça quer salvar o coração. A impressora vive sem tinta. O mundo está sem cor. Cadê o telefone?

Não vejo os espelhos. Saio desarrumado para a rua. Volto para casa meio desnorteado. Desde o dia que a perdi não consigo me encontrar. Cadê o telefone?

Sumiram as meias, os casacos, os edredons. É outono, mas poderia ser verão. O frio que sinto não está no mapa da linda garota do tempo. Nem a visão da linda garota do tempo me esquenta. Fico na cama, com os ombros rebaixados. Cadê o telefone?

Achei o telefone! Quase liguei para ela. Quero saber em que gaveta devo guardar essa tristeza, essa saudade. Desisti. Não devo ligar para isso.

Importante é saber que o amor acaba. O que não pode é acabar o amor.

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