Cheguei da escola junto com a chuva. Deitei no sofá. Na verdade, deitei de frente para a televisão. Passava Doug. O edredom me protegia de tudo o que desabava lá fora.
Deu vontade de sair pra rua, chutar bola, soltar bomba na casa da vizinha fofoqueira e chata, esvaziar o pneu do carro do cara metido. Mas eu estava bem ali. Exatamente no meu mundo. Mundo que arquitetei na parede da sala e ergui num céu de brigadeiro.
Meu planeta não tinha divisões, guerras ou ‘onzes de Setembro’. Era sempre doze de Outubro. Vigorava a ditadura do ‘ameninado’. Nesse lugar, meus pais não brigavam. Ninguém gritava comigo. Eu só me rendia ao sono da tarde.
Meus soldados me ajudavam a encarar o valentão da turma que queria tomar o potinho com lanche que minha mãe preparava. Enquanto isso, meu boneco predileto voava.
Esperava o intervalo na programação da TV Cultura para ir até a cozinha buscar o biscoito “presuntinho”. A alegria tinha gosto.
Meu pai chegava do trabalho com meu irmão e o cheiro do café.
Era feliz e sabia.
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