tag:blogger.com,1999:blog-88893963636598833422024-03-20T19:24:31.345-07:00Maldita Inclusão Digital-Mas,um Blog?
-Mais um blog...Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.comBlogger323125tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-39499373503626419592022-08-12T12:01:00.002-07:002022-08-12T12:01:13.435-07:00Aos pedaços Vou deixando pedaços de mim pela estrada para achar meu caminho. Tal como João e Maria, mas o meu caminhar é para frente, não voltando. Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-64943993525052877382022-07-27T08:27:00.004-07:002022-07-27T08:27:46.608-07:00Fui Tudo o que quis ser, eu fui. Mesmo que não tenha sido como esperava, mas fui. Contudo, isso só foi possível porque sou um cara de sonhos possíveis e decepcionantes.Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-78393761494397155102022-05-04T10:17:00.003-07:002022-05-04T10:17:34.253-07:00Clausura O hábito de deixar as portas sempre abertas faz do futuro uma incerteza ainda maior. Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-71175744043759873692021-06-14T16:10:00.004-07:002021-06-14T16:10:35.443-07:00Sentido é pulsação Todo sentimento é impulso. O que vem depois é aceitação. Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-20375582842004501602021-06-08T17:27:00.005-07:002021-06-08T17:30:02.529-07:00Busca Estava sempre buscando alguém ou algo que encontrava todas as vezes e fazia questão de perder depois. Um dia, após lhe fugir o centésimo amor e a milésima prenda achada em algum dos quatro cantos do mundo, concluiu sozinho: "Gosto mesmo é de procurar".
A bolsa ficou mais leve. A vida também.
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-70375657448534895922021-05-31T16:13:00.001-07:002021-05-31T16:14:00.499-07:00Grisalho Quebrou todos os relógios da casa. Tirou a bateria do celular. Parou de olhar para o céu. Pintou os cabelos, alongou a coluna. Comprou um tênis leve. Fez novos amigos. Bebia como se fosse ontem.
Nunca se deu bem com a passagem do tempo. Sempre ficou onde esteve, olhando por baixo da aba do boné.
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-51790965848436746892020-04-04T21:43:00.004-07:002020-04-04T21:43:49.526-07:00Enfim Tem amores que acabam, mas não terminam. Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-23587224461426887162020-03-14T17:44:00.002-07:002020-03-14T17:44:39.342-07:00Caminhos Devido às coisas da vida - que acabam nos afastando de muitas coisas da vida - não nos víamos tanto. Mas sempre que ela vinha até minha casa, esquecia algum objeto. A memória dela era boa, recordava com facilidade os momentos felizes e não apagava das ideias algumas brigas.<br />
<br />
Eu, ruim de direção, sabia de cor os caminhos iluminados e escuros para a casa dela. Chegava fácil, como não chegava a lugar algum. <br />
<br />
Essas contradições não faziam sentido. Sempre me pegava pensando, segurando o último brinco, ou pulseira, ou relógio, ou celular, ou coração que ela havia deixado para trás em algum canto da minha pequena casa. Como sabia voltar, eu ia e levava para ela. <br />
<br />
Um dia me dei conta de que tudo tinha a ver com caminhos. Caminhos para onde, apesar do tempo e das coisas da vida, sempre vamos voltar. Sempre. Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-13472867430541079282018-05-16T08:21:00.000-07:002018-05-16T08:21:03.228-07:00DentadurasDescobriu os segredos da vida. Sim, são vários. A vida é plural, com o perdão do clichê. Sabia como tudo funcionava. Dominando o manual, tinha como evitar os problemas, multiplicar as fases boas. <br />
<br />
Era o seguinte: percebeu que na vida de todo mundo, as fases boas e ruins se alternavam, uma após a outra. Entre elas, etapas intermediárias, que mesclavam momentos felizes e tristes, proporcionalmente divididos de acordo com a proximidade das fases positivas e negativas. <br />
<br />
Com isso, quando estava nas fases intermediárias (que são as que duram mais tempo), e queria viver alegrias carnavalescas, forçava tristezas de inverno. Então, chovia felicidade em sua vida. <br />
<br />
Dramatizava pequenas questões problemáticas do dia-a-dia com a força do teatro grego e em troca, na sequência, recebia a mais intensa das comédias. <br />
<br />
Fez isso por décadas. Havia também descoberto outras intimidades da vida, mas a que mais usava era essa da felicidade. Era o homem mais feliz do mundo. Uma vida eterna de alegrias. <br />
<br />
A vida é criativa e ele sabia. Criar estruturas complexas como essa não é para qualquer um. E foi essa criatividade da vida que o fez se dar mal. Ela descobriu que ele havia descoberto seu segredo. Quis mostrar como as coisas são. <br />
<br />
Um belo dia, como eram belos todos os dias dele, após uma tarde de diversões e muitas gargalhadas, o homem, já um senhor de idade nesta época, engasgou com a própria dentadura e foi parar no hospital. Como sabia os truques da vida, raramente ficava doente. Isso só acontecia quando queria passar por uma fase ruim para entrar em uma boa e forçava algum problema de saúde. <br />
<br />
No hospital, sem entender muito bem o que estava acontecendo, (o que lhe doía bastante) ficou sabendo que não iria sobreviver. Para justificar a notícia preocupante e bizarra, o médico disse: "É a vida". <br />
<br />
Horas antes da morte, escreveu um livro de autoajuda contando os segredos da vida. Deixou claro no final do texto que já que a vida o levou porque ele descobriu seus segredos, ele iria dividi-los com o mundo e a vida teria que matar muito mais gente.<br />
<br />
A vida continuou como sempre foi, é o que temos todos os dias, belos ou não. Porém, as pessoas que leram o livro de autoajuda escrito pelo homem pararam de usar dentaduras. Mas, mesmo assim, elas dão gargalhadas. Com certa frequência, até. <br />
<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-5620806673327333592018-04-13T13:26:00.004-07:002018-04-13T13:26:59.366-07:00Noite altaA solidão tem relógio grande. O ponteiro demora a fazer a volta. Ninguém vai voltar. Ficaram só eles: ele e as consequências. <br />
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Ela, a outra, magoada, insiste em fazer contato. Mas tá longe. Em outra órbita. Frases soltas não fazem textos bons. Pessoas soltas só fazem merda. Avisei a ele. <br />
<br />
Falei para ele que agora não adianta só chorar. O relógio é grande, ele tem saúde e não quer se matar. <br />
<br />
O relógio é grande, meu amigo. Ele não te prende. A noite se espalha. Vamos fazer merda. De novo. Foi você quem começou isso tudo, mesmo. <br />
<br />
<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-83964272951364770042018-03-18T12:03:00.005-07:002018-03-18T12:03:51.012-07:00Marcos Formigas escalam todo o grande armário. Formigas não são boas para metáforas. Será que elas traçam marcos para iniciar seus maiores objetivos? Preciso parar com essa mania. Preciso parar de perder minha atenção, meu foco, com coisas pequenas. <br />
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Para recomeçar a fazer o que estava fazendo, tenho que determinar um ponto de partida. Geralmente é uma dose de alguma que tem em casa, no armário. Às vezes tem até água. <br />
<br />
Quantos quilômetros a mulher de pernas gostosas corre por dia? O que eu vim buscar no mercado, mesmo? Acho que vim comprar uísque. A água acabou. Será que está paga? Quando pagar as contas, vou traçar uma meta para minha grana.<br />
<br />
Preciso parar com essa mania. Não adianta definir marcos antes de começar algo. O que marca é a passagem de tempo. Só depois que acabamos o tal algo é que podemos olhar para trás e ver onde e como aquilo tudo começou. Os deuses não têm rédeas. Cacete! Tenho um compromisso. Cadê meu relógio? Será que está dentro do armário? <br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-15489973095330383272018-01-31T09:23:00.003-08:002022-07-27T09:30:33.654-07:00Meus links Links com trabalhos meus em diversos locais. Para ler os trabalhos deste blog (que também são meus) basta olhar as outras postagens da página. <br />
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- <a href="https://diariodorio.com/author/felipelucena/">Meus textos no Diário do Rio</a><br />
- <a href="http://www.galeriamusical.com.br/detalhes_au.php?cod_autor=28">Meus textos no Galeria Musical</a> <br />
- <a href="https://www.autografia.com.br/book-author/felipe-lucena/">Meu livro "Ponto Final"</a><br />
- <a href="https://borboletasdodia.wordpress.com/">Crônicas minhas</a><br />
- <a href="https://jportal.com.br/colunista/felipe-lucena/">Crônicas minhas no Jornal Portal</a><br />
- <a href="https://sentimentotricolor.wordpress.com/">Textos meus sobre o Fluminense</a><br />
- <a href="https://maisacrescimos.wordpress.com/">Textos meus sobre futebol </a><br />
- <a href="https://acrescimosfut.wordpress.com/">Textos e comentários em vídeo sobre futebol</a><br />
- <a href="https://todasasnotas.wordpress.com/">Meu blog sobre MPB</a><br />
-<a href="https://www.instagram.com/obliquosbanda/?hl=pt-br"> Oblíquos, banda da qual sou baixista e um dos compositores<br />
-</a> <a href=http://www.perse.com.br/livro.aspx?filesFolder=N1375213929137>Meu livro "Histórias de um Boteco Verdinho"</a><br />
- <a href="http://felipelucena.wordpress.com/">Alguns dos meus textos jornalísticos</a><br />
- <a href="https://www.youtube.com/channel/UCzAngwqBXE44xln60NjbNvg?view_as=subscriber&pbjreload=10">YouTube (roteiros filmados)</a><br />
- <a href="http://felipelucena.wordpress.com/quem-faz/">Mais informações<br />
</a>Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com24tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-7504036902303385142018-01-31T09:22:00.001-08:002018-01-31T09:22:13.995-08:00Cicatrizes Os corpos juntos eram silêncio. Apenas sons que vazam pelos poros nus. Tudo o que eu sabia sobre ela era o que estava exposto nos mundos. No real e no virtual. <br />
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Já cobertos por finos lençóis, falávamos muito, contudo, não se aprofundava. <br />
<br />
Eu, repetitivo, examinava as linhas dela, que pouco acrescentavam. <br />
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Dizem que as cicatrizes na pele falam por nós. As dela, apesar de muitas, nada diziam. <br />
<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-54339863221160680002017-12-18T09:21:00.000-08:002017-12-18T09:21:14.739-08:00Quebra Não sabia se estava tudo bem ou se havia se acostumado. Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-34493861716503154072017-12-04T08:15:00.000-08:002017-12-04T08:15:46.475-08:00Sol da manhã Os exames eram cruéis e verdadeiros. A morte tinha cheiro. Sabia que não iria passar daquela solitária e isolada madrugada. Queria pedir perdão e perdoar muitas pessoas. Não daria tempo. Uma madrugada é pouco para uma vida inteira. Precisa de tempo, precisava de vida. <br />
<br />
Atrasou todos os relógios, acendeu as luzes, ligou o forno, abriu as janelas, regou as flores do jardim. Queria enganar o que era iminente. A madrugada acabou. Como acaba a vida e os potes de sorvete. <br />
<br />
O dia chegou. Não enganou ninguém. Nada, nada. No entanto, viu o sol nascer. Coisa que nunca havia feito antes.<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-80473156591661379122017-11-24T11:28:00.003-08:002017-12-04T08:15:28.647-08:00Da poeira não te livrarás“Do pó vieste e ao pó voltarás”, diz a passagem bíblica. Tomara que eu seja perdoado por tal ajuste, mas eu mudaria a frase para “da poeira vieste e na poeira continuarás”. <br />
<br />
Existe quem defenda que nós, seres humanos cheios de teias de aranha na cabeça, surgimos da poeira. Crenças à parte, essa pequena formação de partículas estará sempre em nossas vidas. Não duvide disso. <br />
<br />
O respaldo científico para tal tese tem a densidade das ideias do astrônomo americano Carl Sagan que já disse que somos poeira das estrelas. <br />
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Crianças, normalmente, têm problemas alérgicos com ela. Sim, ela, a poeira, que nos acompanhará do nascimento até a morte. Quem disse que nascemos e morrermos sós? Que ideia mais empoeirada. A poeira estará perpetuamente conosco. <br />
<br />
São muitas as formas de gerar poeira. O vento, a dilatação do concreto das construções, as queimadas feitas por nós (que variam do processo industrial ao simples ato de acender um cigarro), entre outras. A poeira está no meio de toda a humanidade. <br />
“Há indícios de que grandes quantidades de partículas de areia são transportadas, pelo ar, da África até a selva amazônica”, afirmou o físico Cláudio Furukawa, da USP, ao site Mundo Estranho. <br />
<br />
Quando ficamos adultos, saímos da casa dos pais, achamos que vamos nos livrar de muitas coisas. De fato, nós nos livramos. Menos das contas para pagar e da poeira. Nessa fase da vida, se não lutarmos contra ela, ela nos vence. De goleada. Toma conta de nossas casas. Até crianças de colo são mais resistentes aos efeitos destas pequenas partículas do que jovens-adultos. <br />
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Também têm grupos que garantem que viramos poeira cósmica quando morremos. Eu, já cercado pela investida opressora e nada pueril da poeira, estava planejando dar uma revolucionária faxina aqui em casa, mas é melhor conviver com a realidade.<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-82622879039076342302017-10-21T19:12:00.002-07:002017-10-26T11:49:21.476-07:00A blusa é da feirinha Uma ex-namorada me disse, certa vez, que eu não sei receber elogio. Ela costumava me elogiar, e eu, feliz pelo comentário, dava um jeito de fazer algum comentário crítico sobre o motivo do elogio proferido por ela. Ela ria da minha exótica forma de modéstia. <br />
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“Nossa, que texto legal que você escreveu, Felipe”, ela disse certa vez. Eu respondi: “Nem deu trabalho. Foi fácil, fiz em poucos minutos, poderia ter ficado bem melhor”. <br />
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Outra vez, um amigo, em uma mesa de bar, comentou essa minha estranha loucura. “Você não sabe receber elogios, cara. Você fica sem jeito e dá uma resposta tosca”. <br />
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Em um papo recente, com uma amiga, ela falou que muita gente costuma fazer isso. Mas não só com elogios pessoais ou profissionais. Também serve para objetos. Ela revelou que quando alguém fala que gosta de uma roupa dela, ela frisa que foi barata, que é da feirinha, tecido fraco, enfim, desmerece o alvo da citação alheia. Para finalizar, ela concordou com minha ex-namorada e meu atual amigo. Entrou para o time dos que perceberam que não sei receber elogios. <br />
<br />
Eles têm razão. Não sei explicar bem o porquê disso. Talvez precise fazer uma análise. Eu fico feliz (e muito) com elogios. Sobretudo quando vêm de pessoas que gosto e admiro. Mas acabo não respondendo da melhor forma. De repente, é melhor agradecer rapidamente, meio tímido, e só. <br />
<br />
Pensando bem, creio que minhas respostas se deem por conta do meu lado crítico – inclusive comigo mesmo. Contudo, isso é outro papo. Até porque, meu lado crítico nem é tão crítico assim, gosto de um monte de coisa de qualidade duvidosa... <br />
<br />
Todavia, podem elogiar este texto. Ele foi feito em poucos minutos, poderia ficar bem melhor, mas vou receber bem os elogios - eu acho. A propósito, quando escrevi o texto, estava usando uma blusa do Treze Futebol Clube, que todo mundo elogia quando me vê com ela, no entanto, ela foi comprada na feirinha de Itabaiana, no estado da Paraíba. <br />
<br />
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Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-45803583311991900492017-10-13T12:49:00.000-07:002017-10-17T22:16:58.061-07:00Quase bipolar O mundo nas costas, a vista embaçada. Na boca, o sabor é de algo entre o amargo e o insosso. Nada está bom. Nem o que faz de menos pior. Difícil descrever o cenário. É ruim falar do que vai mal. <br />
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Num instante, e por um instante, a postura fica reta e firme, como a de alguém que vive de aparências, olhos verdes de beleza e esperança. Talvez tenha sido por conta do açúcar no café. <br />
<br />
O Sol entra, já no eterno quase noite, pela janela. Deseja falar como vai tudo bem. <br />
Passou. Foi só instante, mesmo. A boca sorri sem impulso.<br />
<br />
O desejo que sempre fica é o de que a ordem e a sequência da estrutura descrita com dificuldade mude. Seria bem melhor se a balança fosse desfavorável de outra forma. <br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-5028609088025470772017-09-20T13:07:00.000-07:002017-09-20T13:07:34.365-07:00Mapa astralLerdão, como ele era chamado, subia na laje e olhava o céu. "Os planetas só trabalham de noite. De dia, eles descansam", dizia ele. Não era muito informado. Nunca fez curso fora. Quem se importa. Era tão gente boa que quase sempre bebia de graça no bar da esquina do beco. <br />
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De uma noite para outra, sumiu. Procuramos, preocupados, por um tempo. Depois a procura passou. A preocupação nunca foi embora. Falam que ele disse que queria mudar de vida. Só que isso é óbvio para qualquer favelado. <br />
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Ele não era muito de leitura, na verdade, de todos os amigos, só eu, filho de professores, que tinha alguma intimidade com os livros. Ele sabia ler a si mesmo. Soube, de alguém informado, que ele traduziu-se. Foi morar em outro país. <br />
<br />
Eu acho mesmo que ele está em outro planeta, desses que só trabalham à noite e descansam durante o dia. Era mais o estilo dele.<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-50800088478256535132017-08-30T22:04:00.001-07:002017-09-18T12:30:05.099-07:00Rock errou Antes de qualquer coisa vem a introdução. É sempre bom lembrar que Rock’n Roll é muito mais que um gênero musical. Rock é estilo de vida, filosofia, religião, tudo em alto e bom som. <br />
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Agora, vamos aos versos: para acompanhar primos e amigos, acabei indo para uma noitada eclética, dessas que tocam os ritmos musicais da moda e têm cerveja barata - o que é ótimo. Como não é meu principal ambiente de atuação, ativei o modo observação. Funcionou bem. Observei algo interessante. <br />
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Fui de camisa rosa, achando que estaria mais enquadrado ao ambiente. Logo reparei que a maioria esmagadora dos presentes usava preto. Tudo bem, pode ser a cor da moda, boa para usar à noite. <br />
<br />
Também pude notar o elevado número de pessoas com tatuagens expostas. Além disso, jaquetas de couro e barba cumprida entre os homens era praxe. Muitos cabelos bagunçados de propósito. Fui até no banheiro desajeitar o meu. <br />
<br />
Nas mulheres, alargadores, piercings, botas. Subiu ao palco uma dupla sertaneja universitária e um dos integrantes tinha uma guitarra com a madeira intencionalmente danificada. E ele fazia caras e bocas na hora de solar. Até pensei em bater cabeça. <br />
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Em lojas de departamento, dessas que vendem roupas quase em escala industrial, existem muitas camisas de bandas clássicas do Rock. E quem compra, nem sempre, sabe do que se trata. Devem achar que Ramones é grife - deveria ser. Let’s go. <br />
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Quando foi que se vestir como roqueiro virou moda? Na época da escola, eu transitava entre os amigos do Rock e os populares. A galera rock’n roll, que ficava sempre no canto do pátio, era um pouco renegada por alguns dos famosos do colégio. <br />
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Onde eu quero chegar com esse texto? Não quero chegar a lugar nenhum. Isso é uma crônica, não um veículo de transporte. Todavia, é fato que o visual rock’n roll tomou conta de um público que, por muito tempo, o tratou como esquisitice. O Rock in Rio, evento que muita gente quer ir só pelo evento em si, mesmo não sendo fã de nenhuma atração, é uma confirmação disso. E isso já aconteceu em muitos outros casos. Inclusive com o próprio Rock, em décadas passadas, que passou de febre geral a gênero musical de poucos. A humanidade é mesmo previsível e surpreendente, como um bom solo de guitarra.<br />
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Acorde final: cada um se veste do jeito que quiser, adota o estilo que achar melhor, é óbvio. O texto é só uma observação. <br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-46284590095306601632017-08-15T09:53:00.002-07:002017-08-15T09:53:19.855-07:00Despertadores ao contrário Os grilos lá longe. A chuva no teto. Ventilador aos pés. Nas folhas, o vento. Nos galhos, os pássaros. Bob Dylan no fone. Você dormindo, respirando, do meu lado.<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-51038229077874453572017-07-20T13:45:00.001-07:002017-07-20T13:45:54.985-07:00AreiaClara esperou por Peu por meses. Quantos? Ela, mesmo com pouco tempo de estudo, sabia até o número de horas. Eu perdi as contas. Não se calcula grãos de areia. Ela ficava na beira da praia esperando, mesmo sabendo que Peu poderia vir por outro cais. O Sol mudava de posição e Clara ficava lá, no mesmo lugar. Parecia um personagem de Jorge Amado, tema de música de Dorival Caymmi. <br />
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A mulher, que usava vestidos rotos, lavava o cabelo todos os dias. Reclamava da quantidade de areia na cabeça. Após essa limpeza capilar, ela ia para a praia esperar por Peu, que não vinha. O cuidado com a limpeza dos pés também era intenso. Extremamente. Sempre que podia, tirava os muitos grãos de areia dessa parte do corpo. Como se fosse possível para quem mora perto da praia, Clara resistia em manter os pés livres de grãos de areia. <br />
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Quando o tempo decidiu, Peu chegou. Ele estava diferente. Não era só a barba grande e o pequeno número de peixes na rede. Clara não sabia o porquê, mas ele estava diferente. Quem está sempre igual sente as mudanças. <br />
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Depois da chegada de Peu, os dois voltaram para a vida simples que levavam naquela modesta comunidade de pescadores, em um desses locais que o Brasil ainda esconde. <br />
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Estava tudo igual. A mesma rotina: Peu pescava e Clara cuidava das coisas, da casa. Mas Peu estava diferente. Às vezes, ele falava sobre a última longa viagem de barco, sobre o que viu em grandes cidades. Clara sentia um misto de encantamento e medo. Os dois se parecem, mesmo. <br />
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Um dia, Peu limpava peixes e Clara lavava os pés, após lavar o cabelo. Ela disse para ele que iria à praia e o pediu para esperar em casa. Sem muito rumo, mas com alguma direção, Clara saiu andando pelas areias. Sujando os pés que acabara de limpar. O vento também levou areia para os cabelos. Clara nem sentiu a quantidade de grãos que tinha cabeça e continuou andando em frente, sujando os pés. <br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-83247230068887798112017-06-27T19:49:00.001-07:002017-06-27T19:49:37.289-07:00Crônica de tempo e vento Ela era explosiva. Eu, paz e amor. Amava-me no volume máximo. Para mim, melhor no escuro. Se ela guiava para o cinema, eu andava pelos livros. Mas também fazíamos caminhos inversos. <br />
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Rio-São Paulo, ponte aérea que o tempo e o vento não levam. Enquanto ela lia Érico, eu folheava Luis Fernando. Estávamos em casa, já éramos uma família. <br />
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Ela, shopping lotado. Eu, torcida organizada no Maracanã. Sempre chegava na hora. Já os meus relógios constantemente atrasavam. <br />
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Quando eu tinha o cabelo mais cumprido, era o dela, corte Chanel, que o vento chamava para dançar. Não tiro a razão dele, o vento. Eu fazia o mesmo quando nós dois éramos um só, deitados na vida. E éramos um só. Sempre fomos. Até quando estávamos diferentes. <br />
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Hoje, tenho entradas de calvíce. Uso relógios que meu pai usava. Esses não atrasam mais. Mas agora é tarde. Perdi a hora. Dela, sei quase nada. De vez em quando bate um vento frio na cabeça, aquece a memória e só. E só. Deu minha hora. <br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-24337267737123970782017-06-05T12:29:00.005-07:002017-06-05T12:29:53.773-07:00Olhos abertos Enquanto você dorme, uma cidade acorda para trabalhar. Enquanto você dorme, com os vidros da janela te guardando e a TV ligada em um filme B - corta -, algumas pessoas sangram. Enquanto você dorme e parece segura, é noite de lua cheia. <br />
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Enquanto você dorme e se esconde nos lençóis, um homem velho e sério bebe, revelando seu pior lado. Enquanto você dorme, a prostituta deita. Enquanto você dorme, o porteiro cochila. <br />
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Enquanto você dorme sem razões, fazem contas. Enquanto você dorme, pessoas mentem. Enquanto você dorme, os gatos ganham as ruas. Menos o seu, porque ele gosta de te ver dormir. <br />
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Enquanto você dorme, sonha. Acordado, também sonha o rapaz com o caderno no colo. Enquanto você dorme, uma vida acontece. Enquanto você dorme, dorme, dorme, dorme e dorme. <br />
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Enquanto você dorme, eu fico aqui, de olhos abertos, te admirando. Pouco importa o mundo lá fora. Se eles pudessem te olhar dormindo, te esperariam acordar para fazer qualquer coisa, não fariam nada enquanto você dorme.<br />
Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8889396363659883342.post-52820250903053110332017-04-09T20:43:00.002-07:002017-04-09T20:43:44.541-07:00Bandolim Ela só toca bandolim sozinha. Toca de frente para o espelho, para ter certeza de que é sua única espectadora. Seus cabelos cacheados dançam. Não sei se por causa da música ou do vento que entra pela janela aberta. Acho que é a música. O som é tão lindo quanto os cabelos dela. Ela só toca bandolim sozinha, mas a janela está aberta e eu moro no prédio em frente.Felipe Lucenahttp://www.blogger.com/profile/03197647520802569394noreply@blogger.com0